Burocracia da ‘caixinha’ afasta jovens agricultores
A conversa do fim de semana sob a temática “Raça Maronesa, que futuro?” foi mais abrangente com a abordagem sobre as dificuldades inerentes à fixação de pessoas neste território agrícola.
Relativamente aos programas de incentivo, o consultor Nuno Fernandes classifica a área agrícola: «É um pesadelo!» devido à má construção das medidas, à forma como são colocadas ao serviço dos agricultores e, sobretudo, pela burocracia inerente. Este consultor afirma que é preciso coragem para que um jovem agricultor passe pelas dificuldades em todos os passos necessários para implementar uma unidade de produção, dando o exemplo de dois jovens que apresentaram um projeto agrícola, a decisão demorou um ano e meio…já tinham emigrado! O Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC) já foi reformulado duas vezes e, praticamente, ainda não há decisões. As candidaturas não podem ser um quadrado, andamos a adaptar ideias para caberem numa caixinha. As candidaturas têm de poder ser rápidas e maleáveis para ir ao encontro da população e da diversidade dos projetos.
A imagem da caixinha foi apanhada por Beraldino Pinto, vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte, que considera que a Região tem de deixar de ser um mero executor de políticas e de análise informática de candidaturas para ver se cabem nas tais caixinhas para um nível em que contribuímos efetivamente para o desenho das medidas. O representante da CCDRN defende que o PEPAC tem de ter uma forte componente regional. Sabemos que foi aumentado muito o apoio à instalação de jovens agricultores, mas o que é preciso é que o jovem agricultor que se instale tenha rendimento não só no início, mas para a vida na atividade em que escolheu dedicar-se.
“O futuro da montanha está no aproveitamento das raças autóctones”, reafirma Virgílio Alves, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Os saberes locais têm sido contrariados pelo desenvolvimento científico que sugere antes o aumento de gado com mais produtividade. Este especialista reforça antes a ideia de que há condições para que o maronês seja o motor do nosso desenvolvimento local.
O produtor António Ferreira, de Casal da Bouça, assume que o que nós fazemos tem muito valor, tem impacto nos ecossistemas, na montanha, no combate aos fogos e o consumidor mais urbano não tem esse conhecimento. A presidente da Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar, Ana Rita Dias, afirma que as raças autóctones têm de ser uma aposta clara porque já movem a economia local, na restauração, na transformação do produto e na preservação da paisagem. O presidente da Junta de Freguesia do Alvão, António Guedes agradeceu a André Ribeiro, a Ivan Teixeira e a Joaquim Teixeira que ajudaram a organizar o encontro do maronês e a todos os criadores que trouxeram os seus animais até esta atividade. A conversa foi moderada por Francisco Castanheira, da Coopaguiarense, cooperativa agrícola que promoveu um fim de semana, 16 e 17 de agosto, com atividades que evidenciaram a ração maronesa, a cabra bravia, o cavalo e os produtos do campo.